Barueri / SP - quinta-feira, 18 de abril de 2024

Carboinsuflação

AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA CARBOINSUFLAÇÃO NA REDUÇÃO DE ADIPOSIDADE ABDOMINAL

 

 

RESUMO

Carboinsuflação é um método de infusão subcutânea de gás carbônico surgido na França em meados dos anos 30 do século passado, tendo sua aplicação voltada a melhoria de tônus cutâneo e circulatória. Sua aplicação em adiposidades localizadas tem sido observada redução da circunferência das áreas tratadas (efeito lipolítico), ficando evidente: aumento da espessura da pele, fratura da membrana do adipócito e preservação total do tecido conectivo, incluindo-se estruturas vasculares e nervosas. Objetivo: O estudo tem por finalidade a re-ratificação do conceito de que a carboinsuflação pode auxiliar na diminuição da adiposidade abdominal. Método: O estudo incluiu trinta pacientes voluntários, sendo 14 homens e 16 mulheres entre 23 e 50 anos e Índice de Massa Corpórea (IMC) entre 21 a 36 kg/m2. Somente após lerem e assinarem o formulário de consentimento foi realizado avaliação física, na qual constam dados de identificação do paciente, perimetria, IMC, bioimpedância e ultra som de camada adiposa, foram submetidos a 10 sessões de carboinsuflação em nove pontos abdominais, em cada ponto foram administrados 25 ml com velocidade 60 ml/m com agulha 26 G¹/². Resultados: Houve redução da espessura do tecido adiposo verificado pelo exame de ultra-sonografia e redução dos parâmetros avaliados.

ominante na região abdominal.  Conclusão: A carboinsuflação mostrou-se eficiente no tratamento das adiposidades abdominais

 

INTRODUÇÃO

Atualmente os prejuízos a saúde estão diretamente relacionados com maus hábitos adquiridos pela população mundial. Como exemplo, pode-se citar a facilidade de meios de transportes, aumento do tempo gasto com televisão/computador, aumento do uso de escadas rolantes e elevadores, redução ou ausência de atividade física, aumento do consumo de alimentos de alta densidade calórica. Com isso a população mundial está ficando obesa, ou com sobrepeso, com excesso de gordura corpórea predominante na região abdominal.

Em 98% a obesidade esta ligada a hábitos de vida inadequados como: alimentação incorreta, ingestão excessiva de calorias e sedentarismo sem queima significativa destas.

Os outros 2% dos casos são originados de disfunções hormonais, tumores ou síndromes genética.

A obesidade é uma patologia universal de prevalência crescente e que vem adquirindo proporções alarmantes epidêmicas, sendo um dos principais problemas de saúde pública mundial.

Trata-se de uma enfermidade metabólica mais antiga que se conhece e causa um risco de inúmeras doenças crônicas e tem elevada morbimortalidade. É uma doença multifatorial, relacionado as saldo positivo no balanço energético, seja pelo aumento de ingesta de alimentos e/ou pela diminuição de gasto de energia, e pode estar relacionado a diversas outras doenças de ordem metabólica, cardiovascular, entre outras.

A obesidade é definida como um excesso de gordura corporal relacionado à massa magra, que afeta adversamente à saúde. É importante considerar não só a quantidade de gordura, mas também o modo como esse tecido se distribui no organismo, já que indivíduos portadores de distribuição abdominal de tecido gorduroso (obesidade andróide ou distribuição central) apresentam maior risco de doenças e problemas associados e maior mortalidade, como diabetes melitus, dislipidemia, hipertensão arterial, doenças cardio e cerebrovasculares, alterações de coagulação, doenças articulares e degenerativas, neoplasia estrogênio - dependentes, neoplasia de vesícula biliar, esteatose hepática com ou sem cirrose, apnéia do sono, etc.

O tecido adiposo é o principal deposito dos ácidos graxos sob a forma de triacilglicerois. O acumulo do excesso de gordura se da a partir de nutrientes os quais o organismo não necessita mais, sendo que estes acúmulos em excesso podem causar disfunções hormonais ou enzimáticas que reduzem os níveis de enzimas lipolíticas ou aceleram a biossíntesse de enzimas que favorecem o acumulo lipídico.

No ser humano existem dois tipos de tecido adiposo: tecido adiposo branco, amarelo ou unilocular; e o marrom ou multilocular que se diferenciam pela cor, quantidade, vascularização, atividade metabólica, numero de organelas e distribuição no organismo.

Lipogênese é o processo pelo qual os ácidos graxos provenientes de hidratos de carbono e de lipídeos da alimentação juntamente com a glicose são metabolizados pelo tecido em triacilglicerois. A lipólise inicia-se com a degradação de triglicerideos em glicerol e ácidos graxos livres. Os ácidos graxos livres são direcionados para o interior da mitocôndria, onde ocorre a oxidação.

Estudos mostram pacientes que se submetem a atividade física intensa e dietas rigorosas, conseguem redução do peso, mas a adiposidade localizada permanece. Isto se deve ao fato da Adiposidade Localizada ter como principal causa os fatores endógenos. Os principais fatores endógenos são alterações metabólicas, tumores, constituição própria, alterações hormonais, genéticas, alterações hipotalâmicas, insulinomas, hipotireoidismo e hipertireoidismo.

As localizações mais comuns no acumulo de gordura são: abdômen, flancos, culotes, duplo mento (papada), podendo ocorrer também em braços, face interna da coxa, axilas e joelhos, sendo que a concentração do excesso de gordura na região abdominal ou tronco define a obesidade andróide, mais freqüente no sexo masculino, já a concentração de gordura na região dos quadris define a obesidade ginóide, mais freqüente no sexo feminino.

 


A Obesidade andróide apresenta maior correlação com complicações cardiovasculares e metabólicas do que a obesidade ginóide, que apresenta como doenças mais associadas a complicações vasculares periféricas e estéticas.

No entanto a obesidade não é um distúrbio simples, mas um grupo heterogêneo de condições com causas múltiplas entre fatores dietéticos ambientais e pré disposição genética, devido a isso denominam-se como síndrome metabólica o conjunto de tais condições.

Para diagnóstico da Síndrome metabólica é necessário a presença de dois dos cinco seguintes critérios: obesidade visceral; HDL baixo; triglicérides altas; hipertensão arterial; hiperglicemia.

Por tudo isso o interesse em determinar novas medidas terapêuticas para diminuir os índices de obesidade/sobrepeso, morbidade e melhorar a qualidade de vida desses pacientes, dentre estas a carboinsuflação.

Carboinsuflação é um termo recente em medicina, mas a administração terapêutica do anidro carbônico (também denominado gás carbônico ou CO2) iniciou-se nos anos 30 na França.

O CO2 puro medicinal é o mesmo utilizado em cirurgia videolaparoscopica (para promover pneumoperitôneo), histeroscopia e como contraste em arteriografias. O CO2 pode ser administrado pela via subcutânea, através de injeção hipodérmica ou pela via percutânea, na forma de banho seco ou em água carbonada.

As principais indicações da carboinsuflaçãosão: arteriopatia periférica, síndrome acrocianotica, outras patologias que apresentam alterações do micro circulo vascular, como insuficiências venosas, úlceras dos membros inferiores, acúmulo do tecido adiposo entre outras.

Como tratamento das adiposidades localizadas, Brandi e Cols realizaram estudo duplo cego controlado utilizando a carboinsuflaçãopor injeção subcutânea de CO2, demonstrando o aumento da perfusão tecidual (a dopplerfluxometria), aumento da pressão parcial de oxigênio -PO2 e redução da circunferência das áreas tratadas (efeito lipolítico). Estes autores fizeram estudo histopatológico das áreas tratadas, ficando evidente: aumento da espessura da pele, fratura da membrana do adipócito e preservação total do tecido conectivo, incluindo-se estruturas vasculares e nervosas.

O gás atua, sobretudo na micro-circulação vascular do tecido conectivo, promovendo uma vasodilatação e um aumento da drenagem veno-linfática. Com o aumento da vasodilatação, aumentam o fluxo de nutrientes, entre eles, as proteinases que são necessárias para remodelar os componentes da matriz extracelular e para acomodar a migração e reparação tecidual [19].

Outros mecanismos de atuação incluem fratura direta da membrana adipocitária e alteração na curva de dissociação da hemoglobina com o oxigênio (efeito Bohr), promovendo assim uma verdadeira ação lipolítica oxidativa.

A afinidade da hemoglobina pelo oxigênio é inversamente proporcional a concentração de CO2 e do pH, portanto, há uma hiperoxigenação do tecido potencializando o efeito Bohr, ou seja, lipólise oxidativa. Devido à hiperdistensão do subcutâneo há estímulo dos baroreceptores - corpúsculos de Golgi (sensível às baixas pressões) e de Pacini (altas pressões) e consequentemente liberação de substâncias "alógenas", quais sejam a bradicinina, catecolamina, histamina e serotonina. Estas substâncias atuam em receptores beta-adrenérgicos ativando a adenilciclase, promovendo assim aumento do AMPc tissular e conseqüente ação final hidrolítica sobre o triglicérides do adipócito.

Foi evidenciado vasodilatação através da videocapilaroscopia, aumento do fluxo sanguíneo pelo Laser Doppler e o aumento da pressão parcial de oxigênio (PO2) verificada pela via percutânea.

Lembramos que o CO² é um metabólito normal no nosso organismo e em situações de repouso nosso corpo produz cerca de 200 ml/min do mesmo, aumentando em ate 10 vezes frente a esforços físicos intensos. O fluxo e o volume total injetados durante o tratamento encontram-se entre estes parâmetros, normalmente na carboinsuflaçãoutilizam-se fluxos de infusão entre 20 e 100 ml/min e volumes totais administrados entre 600 ml e 1 litro.

Também não existem na literatura relatos de efeitos adversos ou complicações, locais ou sistêmicas. Os efeitos colaterais limitam-se a dor durante o tratamento, pequenos hematomas decorrentes da punção e sensação de crepitação no local, resultante do pequeno enfisema subcutâneo formado e que desaparece em média em até 30 minutos.


MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo incluiu trinta pacientes voluntários, sendo 14 homens e 16 mulheres entre 23 e 50 anos e IMC entre 21 e 36 kg/m2

Como critérios de exclusão, foram estabelecidas presenças de diabetes I e II, hipertensão arterial sistêmica, deslipidemia, síndrome metabólica, disfunções Renais e Neurológicas.

Somente após lerem e assinarem o formulário de consentimento, foi realizada avaliação física, na qual constam dados de identificação do paciente, perimetria, IMC, bioimpedândia e ultra som de camada adiposa e avaliação fotográfica em 4 incidências (Anterior, perfil D , perfil e posterior).                  

Foram realizadas três avaliações, antes da primeira sessão, dois dias após a 5° sessão e dois dias após a décima sessão, todas com a mesma vestimenta, sem sapatos e em pé.

A perimetria foi baseada em Gões, tomando por base a circunferência abdominal (cicatriz umbilical) 3 cm acima e 3 cm abaixo desta

O IMC é calculado a partir da massa corporal e da estatura do individuo (IMC = kg/m2) segundo Behenck 2003 este método tem grande valor nos processos de rastreamento de indivíduos com massa corporal elevada. A Organização Mundial da Saúde define sobrepeso como excesso de peso corpóreo e obesidade como excesso de gordura no organismo, Quando o IMC encontra-se de 25 a 29,9 kg/m² considera-se sobrepeso e Obesidade quando o IMC maior que 30 kg/m².

O percentual de gordura corporal (%GC) foi determinado pelo método de Impedância Bioelétrica. Com aparelho portátil de marca Microlife.

As medidas de espessura de tecido adiposo foram obtidas em equipamento de Ultra-Sonografia de marca Medson, modelo Sanace 800 ex, no laboratório Cedusp – Centro Diagnóstico por imagem. As medidas foram realizadas sempre pelo mesmo operador. A leitura foi feita diretamente de imagens congeladas na tela. Considerou-se espessura subcutânea (SC-US) a medida entre pele e face externa do músculo reto abdominal.

Para a realização deste estudo foi utilizado um equipamento de carboinsuflação: Carboxi Skin no. 035, aferido por instrumental da RBC (Rede Brasileira de Calibração), fabricado por Skiner Indústria e Comércio Ltda, ANVISA  no. 10-1004-10008 e agulha hipodérmica (26g ½). Os pacientes foram submetidos a 10 sessões de carboinsuflação em regiao abdominal em nove pontos de aplicação – paraumbilical, abdômen superior direito e esquerdo, abdomen inferior direito e esquerdo, flanco superior direito e esquerdo e flanco inferior direito e esquerdo, em cada ponto foram administrados 25 ml com velocidade 60 ml/m.

 

RESULTADOS

Houve uma redução na espessura média da camada adiposa verificado pelo exame de ultra-sonografia de parede abdominal, sendo que em mulheres essa redução foi de 25,05%, portanto diminuiu de  21,61 milímetros para 16,69 milímetros de espessura. Já em homens a redução foi de 17,04%, ou seja, na média diminuiu de 22,3 milímetros para 18,5 milímetros de espessura.

 

A redução na perimetria da circunferência abdominal na altura de 3 centímetros acima da cicatriz umbilical. Nas mulheres essa redução foi de 3,75 cm após 5 sessões e de 6,76 cm após 10 sessões, ou seja, houve uma redução de 7,95% após 10 sessões. Nos homens essa redução foi de 3,68 cm após 5 sessões e de 5,72 cm após 10 sessões, ou seja, houve uma redução de 5,96% após 10 sessões

 

A redução na perimetria da circunferência abdominal na altura da cicatriz umbilical. Nas mulheres essa redução foi de 3,75 cm após 5 sessões e de 8,94 cm após 10 sessões, ou seja, houve uma redução de 9,7% após 10 sessões. Nos homens essa redução foi de 3,21 cm após 5 sessões e de 6,04 cm após 10 sessões, ou seja, houve uma redução de 6,11% após 10 sessões

 

A redução na perimetria da circunferência abdominal na altura de 3 cm abaixo da cicatriz umbilical. Nas mulheres essa redução foi de 2,69 cm após 5 sessões e de 4,89 cm após 10 sessões, ou seja, houve uma redução de 5,18% após 10 sessões. Nos homens essa redução foi de 2,79 cm após 5 sessões e de 4,55 cm após 10 sessões, ou seja, houve uma redução de 4,6% após 10 sessões

 

A redução no IMC. As mulheres obtiveram redução de 1% após 5 sessões e 1,71% após 10 sessões. Os homens obtiveram redução de 0,36% após 5 sessões e 1,2% após 10 sessões.

 

Já o percentual de gordura verificado a partir da bioimpedância mostra que as mulheres tiveram redução total de 1,54% e o gráfico 12 mostra que os homens tiveram redução total 2%.

 

DISCUSSÃO

No presente estudo foram utilizados diferentes parâmetros de avaliação, segundo Radominski et al a Ultra-Sonografia é um método preciso, acurado e que pode ser utilizado para a determinação da gordura sendo a leitura foi feita diretamente de imagens congeladas na tela. Considerando-se espessura subcutânea (SC-US) a medida entre pele e face externa do músculo reto abdominal. Em nosso trabalho foi realizada a medida da espessura subcutânea da mesma forma, sendo observado que as mulheres apresentavam em média 21,61 milímetros de espessura da camada adiposa no inicio do trabalho, permanecendo com 16,19 milímetros ao término das 10 sessões. Os homens iniciaram com a média de 22,03 milímetros e terminaram com 18,5 milímetros, confirmando o efeito lipolitico já evidenciado por Brandi e Cols em estudo histopatológico. Devido a isso podemos também creditar a redução dos demais parâmetros de avaliação ao efeito lipolitico. Dentre a média das mulheres a menor diminuição foi de 3 milímetros e a maior de 10 milímetros, já nos homens a menor medida foi de 1 milímetro e a maior foi de 5,5 milímetros

A perimetria descrita por Behenck como método de determinação da gordura corporal foi realizada segundo Goes 2005, onde observamos a redução dos parâmetros levando a crer a ocorrência da diminuição da gordura corporal. . No estudo de Brandi realizado em mulheres houve uma redução na média de 3,44% da perimetria da região abdominal em 6 sessões, neste estudo levando-se em comparação as 3 medidas realizadas tivemos redução entre 2,85% e 4,41% em 5 sessões e de 5,18 a 9,7% em 10 sessões. Tanto nos homens quanto nas mulheres a maior perda ocorreu na circunferência corporal na altura da cicatriz umbilical, dentre as mulheres a maior perda foi de 11 centímetros e a menor de 4 centímetros, já nos homens a maior foi de 9 centímetros e a menor de 3 centímetros.

Já com a redução no IMC, que segundo Duarte tem excelente correlação com a quantidade de gordura corporal, mas Claudino e Behenck citam cautelas quanto a sua interpretação por ser facilmente influenciada, podemos interpretar a redução também como perda de gordura se levarmos em consideração os demais resultados.

Segundo Suplicy pode-se estimar a quantidade de gordura de um individuo apenas pela observação, portanto para maior rigor são utilizados métodos como a bioimpedância, sendo verificados percentual de água e gordura corporal, conforme a idade e o sexo, o percentual de gordura é classificado com excelente, bom, normal, excesso de peso e obesidade. Em nosso estudo a media das mulheres era de 30,43% e passaram para 29,96%, os homens a média era de 24,93% e passaram para 24,79%.

Segundo Brandi são indicados de 12 a 20 sessões para se obter um resultado efetivo e um novo ciclo depois de 6 a 10 meses, os pacientes do estudo realizaram somente 10 sessões.

 

CONCLUSÃO

Apesar de não ter sido realizado o tratamento conforme descrito na literatura onde são indicadas de 12 a 20 sessões, a carboinsuflação mostrou-se eficiente no tratamento de gordura abdominal diminuindo os parâmetros iniciais dos pacientes em 10 sessões, sem nenhuma mudança nas atividades de vida diária dos pacientes, os mesmos demonstraram satisfação em relação ao tratamento.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1Kárita Evelyn Mantovani, 1Rafael Fernandes Gambôa, 2João Carlos e Silva

 

Todas as informações contidas neste material têm a intenção de informar, NÃO pretendendo, de forma alguma, substituir orientações medicas.

Decisões relacionadas ao tratamento de pacientes devem ser tomadas pelo médico, considerando assim as características de cada paciente.